Tornou-se comum avistarmos procissões, cultos, atos religiosos pelas ruas do Rio de Janeiro.
Enquanto nas ideias protestantes, as imagens não são consideradas, focando-se, sobretudo, na palavra, nas tradições católicas, o culto envolvendo imagens devocionais se faz com muito fervor.
Sabemos que a igreja católica se utiliza de imagens para registrar passagens bíblicas, para tornar os santos e santas ícones, para aumentar a dramaticidade de cenas que, de modo impressionante, atualizam-se e aproximam-se dos fiéis no Barroco dourado das igrejas. Com isso, temos imagens sagradas em santinhos carregados nas carteiras dos cariocas e em tíquetes de passagens de trens, metrôs, ônibus.
A fé, então, leva-se junto de nossos corpos, em terços, medalhas, escapulários, guias da umbanda e do candomblé. Imediatamente, associam-se deuses cristãos e afro-brasileiros: Xangô e São Pedro, Oxum e Nossa Senhora da Conceição, São Sebastião e Oxóssi, São Jorge e Ogum.
Mesmo separando o que pode ter sido fruto do racismo, ao pensarmos o sincretismo como recurso para a liberação da espiritualidade do povo negro, racismo religioso que se atualiza na perseguição aos terreiros, pensemos, hoje, em uma outra ideia de congregar tais deuses e deusas.
O fervor religioso se apresenta em sambas e nas canções da música popular, em artistas como Rita Ribeiro, Glória Bonfim, Zeca Pagodinho. “Armas de fogo meu corpo não alcançarão”, diz a oração transformada em canção por Jorge Benjor. Aliás, São Jorge, que no Brasil é padroeiro do Corpo de Bombeiros, tem sua imagem carregada em carro aberto pelas ruas de Quintino Bocaiúva.